Existe morte... depois da morte.
Por Marcio Schiavo
A discussão é antiga. Muito antiga. A vida após a morte é um mistério. Para muitos. Não para Luzia, exposta que estava a curiosidade pública e ao olhar apurado da ciência, repousada na eternidade conquistada por ser o mais antigo ancestral da presença humana na américa.
reconstituição do rosto de Luzia evidenciando a sua morfologia não-mongoloide
Luzia tinha 12.000 anos, comprovaram os arqueólogos. E a cada visita, o observador mais atento emprestava-lhe a vida e com ela viajava no tempo, procurando imaginar como tinha sido sua existência. Que sabedorias guardava Luzia, capaz de sobreviver a tantos séculos.
Como companhia, Luzia convivia com muitos outros fósseis pré-históricos, de animais e vegetais, seres vivos que testemunharam as muitas mudanças pelas quais nossa morada – a Terra, passou. Geoceno e Antropoceno compartindo um mesmo espaço, ao mesmo tempo, numa comunhão entre a geografia e a história.
Também presentes nesta rara comunidade, a coleção de Múmias Egípcias, cuidadas no passado pelo Prof. Victor Staviarski, que com elas costumava se comunicar, compartilhando segredos que só os iniciados tinham acesso.
E muito mais. Calcula-se em 20 milhões o número de peças que compunham o acervo do Museu Nacional. Cada uma com sua importância guardava em si mesmo testemunho de uma época que não volta mais. Conhecê-las e entendê-las, era uma forma de conhecer e entender nossa ancestralidade. E quase tudo se acabou em poucas horas. Pelo fogo ou pela negligência? Por fatalidade ou por descaso?
Não por acaso uma única peça do prédio principal (Palácio da Quinta da Boa vista) se salvou. Logo na entrada estava exposto com destaque, e continua lá, o Meteorito do Bendego. Veio do espaço. De outra galáxia e, certamente por isso, manteve-se imune as irresponsabilidades dos terráqueos, que por negligência e insensatez, permitiu a existência de condições para que o incêndio acontecesse e tomasse as proporções que tomou.
Meteorito do Bendego
O incêndio do Museu Nacional não foi uma fatalidade, que não poderia ter sido evitada. Ao contrário, em diversas oportunidades essa possibilidade – e outras – foram levantadas. A resposta concreta foi o progressivo corte de recursos no orçamento da instituição, que entre 2013 e 2018, foi reduzido em praticamente 10 vezes (de R$ 531 milhões para R$ 54 milhões/ano).
E quanto ao trabalho dos bombeiros, duplamente lamentável. Falharam tanto nas ações preventivas quanto no combate ao incêndio, propriamente dito.
Infelizmente, o rio passa por um de seus momentos mais difíceis, onde o desaparecimento está presente, mesmo após a morte. Bendego que nos proteja.