CONCEITO E EVOLUÇÃO DO MARKETING SOCIAL
Conjuntura Social #1 | Marketing Social | Maio 1999
Por Marcio Ruiz Schiavo
O atendimento à área social, no passado, era feito por  senhoras da sociedade   que, realizando obras sociais, exercitavam sua  vocação filantrópica. Hoje, a   gerência por intenções já não encontra  mais espaço no mercado. Com o crescimento   do Terceiro Setor - tanto em  volume de recursos financeiros quanto em relevância   social e política  - e sua consequente profissionalização, as modernas técnicas   de  gestão dos negócios foram, pouco a pouco, incorporadas à área social. A    sociedade também espera e cobra resultados concretos e efetivos -  capazes de   transformar pessoas carentes em cidadãos que exercitam seus  direitos   fundamentais.
Este artigo está voltado para o empreendedor e gestor  social, buscando   oferecer-lhe uma base conceitual acerca do marketing  social. Considera-se que   essa área do conhecimento ainda é  relativamente nova, no Brasil - e, por isso,   também é pouco conhecida  pelos profissionais que atuam no Terceiro Setor.
Sem dúvida, isso justifica a discussão de alguns conceitos  básicos, de modo a   auxiliar os gestores de programas sociais a melhor  entender os princípios e   métodos que norteiam essa inovadora forma de  abordagem das questões sociais.
Embora mantenha com o marketing - conceito de amplo  conhecimento e larga   utilização no país - claras relações, em termos  de técnicas e metodologias, o   marketing social não se confunde com  ele. Uma abordagem de marketing social não   se restringe à mera  transposição dos métodos e técnicas do marketing comercial   para a área  social. Ela propicia, fundamentalmente, uma nova forma de ver e    entender as questões sociais, daí se originando novos métodos e  estratégias de   intervenção. O marketing social é, na verdade, uma  tecnologia de gestão do   processo de transformação social.
Conceitos de Marketing. Segundo a American  Marketing   Association (AMA), “marketing é o desempenho das atividades  de negócios que   dirigem o fluxo de bens serviços do produtor ao  consumidor. É o processo de   planejamento e execução da criação,  estabelecimento de preço, promoção e   distribuição de idéias, produtos  e/ou serviços, com vistas a criar os   intercâmbios que irão satisfazer  as necessidades dos indivíduos e organizações”.   Por sua vez, Drucker  prefere definir o marketing de um modo mais direto, embora   bem mais  amplo e pouco claro: “marketing é todo o empreendimento considerado do    ponto-de-vista do consumidor”. Já para McCarthy, “marketing é um  processo social   que dirige o fluxo dos bens e serviços dos produtores  para os consumidores, de   maneira a equilibrar efetivamente a oferta e a  procura, a fim de alcançar os   objetivos da sociedade”.
Na definição proposta por Kotler — um dos mais brilhantes e  conceituados   teóricos do marketing, nos Estados Unidos —, “marketing é  a análise, o   planejamento, a implementação e o controle de programas e  projetos formulados   com o objetivo explícito de propiciar trocas  voluntárias de valores com o   mercado-alvo, para atingir objetivos  operacionais concretos”. Assim sendo, a   elaboração e execução de um  plano de marketing, deve levar em consideração as   diferentes  necessidades, expectativas e desejos do(s) mercado(s) em que se    pretende atuar, além do uso efetivo das técnicas de estabelecimento de  preço,   comunicação e distribuição — para informar, motivar e servir os  respectivos   mercados.
Outras definições ainda poderiam ser transcritas — sem, no  entanto,   acrescentar novos conteúdos ao conceito clássico de  marketing. Marketing é atuar   no mercado, com toda a sua dinâmica e  compreendido em suas diversas variáveis,   interrelacionadas. Contudo,  pela popularização do termo, talvez seja útil   mostrar o que o  marketing não é. Com frequência, observa-se o uso de expressões   como:  “Isso é uma jogada de marketing”; “é preciso fazer marketing”; “isso não    passa de marketing”, como se a situação da qual se fala, de fato, não  existisse.   Usa-se o termo sem muita preocupação com o seu  significado.
Os diversos “Marketings”. Qualquer pessoa  interessada no   assunto e que entre, atualmente, em uma livraria  procurando um livro que seja “a   última palavra em marketing” — como  geralmente acontece com profissionais das   diversas áreas — poderá  levar um susto. Na seção de comunicação e marketing,   entre as centenas  de lançamentos editoriais, encontrará uma infinidade de   títulos sob a  rubrica “marketing”, mas que apresentam crescentes níveis de    especialização.
Alguns dos títulos possíveis de serem encontrados nas  grandes livrarias   seriam: marketing comercial, marketing político,  marketing institucional,   marketing de idéias, marketing esportivo,  marketing cultural, endomarketing,   benchmarketing, marketing direto,  marketing global, telemarketing, marketing de   serviços, marketing de  rede, marketing competitivo, marketing estratégico,   marketing social  e, até mesmo, um inesperado marketing religioso. Além disso,   muitos  desses títulos admitem especificidade ainda maior. Por exemplo:  marketing   comercial para micro, pequenas, médias e grandes empresas;  marketing estratégico   para as organizações que atuam na área social,  de saúde e/ou educacional.
Isso ilustra, sem dúvida, o alto nível de segmentação que o  mercado atual   impõe. Se alguém se deixa levar pelas aparências,  provavelmente e imaginará que,   para cada uma das várias áreas acima  referidas, seria necessário um profissional   com formação específica.  Felizmente, não é esse o caso; pelo menos, por   enquanto. Os  conhecimentos fundamentais do marketing continuam  sendo a base na qual  os arquitetos do mercado — em organizações do setor  industrial,  comercial ou de serviços — podem dar asas à imaginação.
Marketing Social: Uma breve introdução.  Com o crescimento do   Terceiro Setor — tanto em volume de recursos  financeiros quanto em relevância   social e política — e a sua  consequente profissionalização, as modernas técnicas   de gestão dos  negócios foram, pouco a pouco, sendo incorporadas à área social,   essa  área, tradicionalmente, era o reduto onde as “senhoras da sociedade’    realizavam ‘obras sociais”, exercitando sua vocação para a benemerência  ou   filantropia. Hoje, porém, a gerência por (boas) intenções já não  encontra mais   espaço no mercado.
Num primeiro impulso, entretanto, tenta-se a transposição  dos conceitos   vigentes nos setores privado e governamental para o  Terceiro Setor. No mais das   vezes, ao importar as ferramentas e  conceitos de outras áreas para a área   social, propõe-se modificações e  adaptações de natureza “frankesteniana”, sem   levar em consideração as  origens e a natureza dos problemas que se pretende   solucionar. É como  se o “social” tivesse entrado no mercado e, por esse motivo,   devesse  estar subordinado às suas regras. Quando essa é a diretriz prevalente,    as definições propostas para o marketing social costumam ser,  praticamente, as   mesmas que se empregam para o marketing comercial,  trocando-se aqui e ali   algumas palavras-chave. Outros estudiosos, mais  atentos, procuram caminhos   próprios para definir o marketing social.
A expressão “marketing social” surgiu nos Estados Unidos,  em 1971, e foi   usada pela primeira vez por Kotier e Zaltman — que, na  época, estudavam   aplicações do marketing que contribuíssem para a  busca e o encaminhamento de   soluções para as diversas questões  sociais. Naquele ano, eles publicaram no   Jornal of Marketing, um  artigo intitulado “Social Markeiing: An Approach to   Planned Social  Change”, no qual conceituaram o marketing social como sendo o   processo  de “criação, implementação e controle de programas implementados para    influenciar a aceitabilidade das idéias sociais e envolvendo  considerações   relativas ao planejamento de produto, preço,  comunicação, distribuição e   pesquisa de marketing”.
Nesse mesmo artigo, os dois autores defendiam a tese de que  o “marketing   social é um dos novos desenvolvimentos mais promissores,  cuja e efetiva   aplicação espera-se que venha a aumentar a eficácia  dos agentes sociais de   mudança, no sentido de proporcionarem as  transformações sociais desejadas”.   Pouco depois, em meados de 1972,  Eduardo Roberto publica o livro intitulado   “Social Marketing:  Strategies for Diffusing the Adoption of Family Planning”.   Embora  tendo como foco a aplicação dos princípios e métodos do marketing social    aos programas de planejamento familiar, ele corroborava — em linhas  gerais — as   idéias de Kotler Zaltman, sobretudo quanto à tese de que o  marketing social   constituía “uma das principais ferramentas para a  promoção de mudanças de   comportamentos, atitudes e práticas”.
Em 1978, foi publicado no Brasil um outro livro de Kotler,  intitulado   “Marketing Para Organizações Que Não Visam Lucros”. Nele, o  autor procura   demonstrar a importância de se aplicar, na área social  (Terceiro Setor), os   princípios e métodos de marketing utilizados  pelas empresas que têm finalidades   de lucro. 
“Isso é uma jogada de marketing”. O uso  dessa expressão   demonstra pouca familiaridade com o seu significado —  como se a situação da qual   se fala não existisse, de fato.
Deve incorporar aos seus quadros um profissional de marketing, nas esferas de decisão, e que teria as seguintes atribuições principais:
Deve incorporar aos seus quadros um profissional de marketing, nas esferas de decisão, e que teria as seguintes atribuições principais:
a) Identificar os mercados em que a organização atua ou poderá atuar, os seus   diversos 
públicos-alvo e os respectivos segmentos;
públicos-alvo e os respectivos segmentos;
b) Pesquisar, analisar e conhecer os comportamentos, atitudes e práticas dos   segmentos 
populacionais visados;
populacionais visados;
c) Estabelecer o posicionamento que se pretende que o  conceito ou causa social   promovida tenha na mente dos vários  públicos-alvo;
d) Definir, criar, propor e desenvolver os produtos sociais necessários para   o alcance das 
mudanças comportamentais pretendidas;
mudanças comportamentais pretendidas;
e) Estabelecer o “marketing mix” da organização (Produtos, Preços, Promoção,   Pontos de 
Distribuição, Públicos-Alvo e Pessoal).
Distribuição, Públicos-Alvo e Pessoal).
Além disso, esse profissional deveria responsabilizar- se  pela implementação   das ações de marketing, acompanhando-as e avaliando  os resultados obtidos, e   procedendo às mudanças ou correções  necessárias para o êxito do empreendimento   social desenvolvido pela  organização. Kotler também deixa claro que, mesmo na   área social, o  trabalho de uma organização deveria começar e terminar num mesmo   ponto  focal: o cliente. Fundamentalmente, é o seu grau de satisfação com os    serviços utilizados e/ou com os novos comportamentos, atitudes e  práticas   adotadas que determina o nível de eficácia e eficiência da  organização.
O grande interesse de Philip Kotler e Eduardo Roberto pela  área social iria   render, ainda, um importante livro — Social Marketing  — publicado em 1989 pela   Free Press. No início de 1992, a Editora  Campus lançou esse trabalho no Brasil,   sob o título “Marketing Social:  Estratégias Para Alterar o Comportamento   Público”. Nele, os autores  definiram marketing social como “o emprego dos   princípios e técnicas  de marketing para a promoção de uma causa, idéia e/ou   comportamento  social”.
Segundo Kotler e Eduardo, a partir de 1971, quando usaram  pela primeira vez   essa expressão, “o termo passou a significar uma  tecnologia de administração da   mudança social, associada ao projeto, à  implantação e ao controle de programas   voltados para o aumento da  disposição de aceitação de uma idéia ou prática   social por um ou mais  grupos adotantes escolhidos como alvos”. Assim como para   maximizar  suas respostas, recorre a conceitos de segmentação do mercado,    pesquisa de consumidores, desenvolvimento e testes de conceitos de  produtos,   comunicação direta, facilitação, incentivos e teoria da  troca. “A instituição   patrocinadora busca concretizar os seus  objetivos de mudança na crença de que   eles contribuirão para o  interesse dos indivíduos ou da sociedade”.
Esta mesma idéia já constava no livro “Marketing”, também  de autoria de   Kotler e publicado no Brasil, em 1991. Mantendo a lógica  da transposição dos   conceitos e ferramentas da área comercial para a  social, Kotler também adotaria   as teses assistenciais para a área  social. Assim, a geração de condições para o   exercício dos direitos  humanos fundamentais transforma-se em ação assistencial e   os clientes  passam a ser considerados como beneficiários ou assistidos. Nesta    linha, ele confere ao marketing social uma “abordagem sistemática para o    planejamento de benefícios a serem oferecidos a um público distinto”.
Uma outra conceituação — hoje, bastante difundida — foi  proposta por Glenn   Wasek, professor da Escola de Pós- Graduação em  Saúde Pública da Universidade de   Harvard. Dando ênfase aos aspectos  operacionais e aos objetivos programáticos,   ele afirma: “marketing  social é o emprego do planejamento de mercado,   estratégia, análise e  técnicas gerenciais tradicionais e inovadoras para   garantir o  bem-estar do indivíduo e da sociedade”. E, privilegiando o cliente,    conclui: “É um programa público do ponto-de-vista do consumidor”. Embora  tenham   muitas aplicações, segundo Wasek, “as técnicas do marketing  social são mais   poderosas quando incorporadas ao processo de  elaboração de intervenções na saúde   pública”.
Finalmente, para Atucha, “o termo marketing social é  empregado para descrever   o uso de princípios e técnicas de marketing  para a promoção de uma causa, de   idéias ou de um comportamento social.  É uma tecnologia de administração da   mudança social associada ao  projeto de implementação e controle de programas   destinados a aumentar  a disposição das pessoas ou grupos para a aceitação de uma   idéia, um  comportamento ou uma prática social”.
Com experiência acumulada em diversos países e em muitos  anos de atuação no   mercado social, Atucha propõe uma definição mais  operacional para marketing   social: “Marketing social é uma ferramenta  democrática e eficiente, que aplica   os princípios e instrumentos do  marketing, de modo a criar e outorgar um maior   valor à proposta  social. O marketing social redescobre o consumidor por meio do   diálogo  interativo, o que gera condições para que se construa o processo de    reflexão, participação e mudança social. Os resultados são mensuráveis  pelos   seus efeitos e avaliados por sua efetividade”.
A Nova Comunicação em Saúde. Em seu livro Marketing Social -  Aproximaciones   Teóricas Desde la Práctica, escrito em colaboração com  Silvia Calderón Lora,   Atucha também registra a evolução da educação  sanitária que, pouco a pouco, iria   incorporando as modernas técnicas e  estratégias de comunicação social. Com   efeito, depois de várias  décadas empregando um enfoque puramente médico, as   campanhas e  programas de educação para a saúde passaram a incorporar, no final   da  década de 60, recursos humanos de diversas outras áreas — com destaque  para   os educadores, sociólogos, antropólogos, profissionais de  comunicação,   assistentes sociais e psicólogos. Essa migração de novos  conhecimentos e   técnicas para a área da saúde revelou-se extremamente  bem-sucedida, maximizando   os resultados das campanhas programas.
Os êxitos então alcançados demandaram novas necessidades — o  que,   praticamente, impôs a utilização dos recursos de comunicação  antes restritos à   área comercial. Mais do que disseminar estratégias e  meios para prevenir   doenças, deve-se promover a saúde — como se  concluiu na Conferencia Mundial   Sobre Educação Para a Saúde, promovida  pela Organização Mundial da Saúde (OMS),   em Ottawa (Canadá), em 1986.  A partir daí, então, os profissionais de   informação, educação e  comunicação (IEC) passaram a aceitar e utilizar técnicas   de mercado  nos programas em que trabalhavam. Embora esse avanço tenha ocorrido    com bastante desgaste, o fato é que a comunicação ocupa um lugar de  crescente   destaque nos programas de desenvolvimento social. Contudo,  ainda hoje, ouvem-se   comentários do tipo 'saúde não é um produto a  mais para ser consumido'; “este   programa não é um supermercado que  quer vender cada vez mais”; ou “nós não   queremos lucro, e sim, pessoas  capazes de decidir. E isso custa caro”.
Considerados em seus respectivos contextos, esses  argumentos têm alguma   sustentação. No entanto, não parece aceitável  que uma forma de perceber a   questão da saúde anule, exclua ou  comprometa eticamente a outra. Se as técnicas   e instrumentos do  marketing são eficientes e vêm sendo empregadas pra servir a   tantos  objetivos menos nobres, por que não utilizá-las para promover a saúde e    uma melhor qualidade de vida para as pessoas? Por que não empregá-las  nos   programas de desenvolvimento social?
Enfim, quando se prega a aplicação dos princípios e métodos  do marketing   social pelas organizações atuantes no Terceiro Setor,  não se está propondo que   se dê um tratamento igualitário, por exemplo,  às vacinas e aos batons ou a   cremes dentais e à prevenção dos  cânceres ginecológicos e de mama, O que se   busca, na verdade, é  provocar sorrisos saudáveis nos rostos de todos os que   adotaram uma  inovação social disponibilizada por um programa ou projeto que se    tornou mais eficaz, eficiente e efetivo pelo emprego das técnicas e  metodologias   de comunicação aplicadas ao desenvolvimento.
Marketing Social de Produtos. Há, também,  uma corrente que   entende marketing social como a venda subsidiada de  “produtos sociais”. Essa   corrente nasceu na área da saúde e migrou  para outras áreas, em que a   intervenção social também se faz  necessária. Assim, são bastante comuns os   programas de “marketing  social de preservativos”, por exemplo. No Brasil,   atualmente, existem  dois. O primeiro é a extensão de um programa apoiado pela   Agência dos  Estados Unidos Para o Desenvolvimento Internacional (USAID),   aplicado  inicialmente na Ásia, América Central e Caribe. A empresa responsável é    a DKT do Brasil. O segundo vem sendo desenvolvido pela Sociedade Civil  Bem-Estar   Familiar no Brasil (BEMFAM). Ambos têm o mesmo objetivo:  vender preservativos   (camisinhas) a preços mais baixos que os das  empresas comerciais. Baseiam-se no   principio de que a margem de lucro  dessas empresas é muito elevada, e assim é   possível colocar no mercado  produtos de qualidade a preços mais acessíveis.
A tese, realmente, é encantadora. No entanto, para fazer o  que pretendem,   essas organizações não fabricam os seus produtos  (preservativos). Apenas criam   uma marca, utilizando técnicas apuradas  de marketing, compram grandes   quantidades de preservativos a bons  preços no mercado externo, recebem subsídios   americanos para operar e  tentam colocar seus produtos no mesmo mercado disputado   pelas empresas  comerciais. Esse mecanismo, porém, não vêm obtendo êxito no   Brasil,  Na verdade, sem os subsídios, são mínimas as chances de sobrevivência    desses empreendimentos, assim como a motivação de seus e empreendedores.
Em outros programas de mercado social, como são conhecidos  nos demais países   da América Latina, tenta-se propiciar um suporte  Financeiro às instituições que   os gerenciam. Quase todos os programas  desse tipo surgiram em meados da década   de 80, quando a orientação das  agências internacionais de cooperação apontava   para o que chamavam de  sustentabilidade. As agências recomendavam que as   organizações  não-governamentais desenvolvessem habilidades comerciais, a fim de    reduzir sua dependência em relação aos recursos Financeiros doados a  fundo   perdido pelas então chamadas “instituições doadoras”. A tese  defendida era a de   recuperar os custos dos produtos e/ou serviços,  reaplicando-os no trabalho   institucional.
Existem, ainda hoje, alguns projetos dessa época — que  comercializam, a   preços subsidiados, vários tipos de produtos sociais:  métodos anticoncepcionais   incluindo a camisinha, também utilizada  para a prevenção da AIDS e outras   doenças sexualmente transmissíveis;  soluções empregadas para fazer o soro de   reidratação oral (soro  caseiro); produtos anticépticos e de higiene pessoal,   como água  oxigenada e absorventes íntimos; e medicamentos de uso simplificado.    Esta era (e continua sendo, em vários países da América Latina e Caribe)  a base   do modelo dc comercialização prevalente nos diversos programas  de mercado social   que povoaram os escritórios de muitas organizações  não-governamentais nas duas   últimas décadas.
Conclui-se, portanto, que na visão dos dirigentes e  técnicos das organizações   que trabalham com essa lógica de produtos  “vendidos” a preços subsidiados e/ou   com o objetivo de propiciar  recursos financeiros para sustentar ainda que   parcialmente a  organização, o marketing social seria tão-somente uma adaptação   do  mercado comercial, aplicada a área e aos problemas sociais. Para muitos    desses dirigentes e técnicos, no entanto, os programas de “mercado  social” se   constituíram, apenas, em um instrumento bastante útil para  manter por mais tempo   o status quo da ineficiência bem-intencionada  que prevalecia no campo   social.
Marketing Social: Um novo enfoque. Uma  interpretação mais   recente identifica o marketing social como sendo  uma metodologia inovadora,   capaz de fazer evoluir o modo de lidar com  idéias, atitudes, conceitos, ações,   comportamentos e/ou práticas,  visando promover transformações sociais   especificas. Para cumprir os  seus objetivos, um programa de marketing social   deve atingir uma  grande audiência em um curto período, assegurando tanto as   mudanças  comportamentais planejadas quanto a sua continuidade ao longo do tempo    (efetividade). Neste contexto, Schiavo e Fontes analisaram as diversas    diretrizes de atuação e propuseram a seguinte conceituação: “Marketing  social é   a gestão estratégica do processo de mudança social a partir  da adoção de novos   comportamentos, atitudes e práticas, nos âmbitos  individual e coletivo,   orientadas por preceito éticos, fundamentadas  nos direitos humanos e na equidade   social. O termo é empregado para  descrever o uso sistemático dos princípios e   métodos do marketing  orientados para promover a aceitação de uma causa ou idéia,   que levem  um ou mais segmentos populacionais identificados como público-alvo a    mudanças comportamentais quanto à forma de sentir, perceber, pensar e  agir sobre   uma determinada questão, adotando a respeito novos  conceitos e atitudes”.
Schiavo e Fontes esclarecem, também, que — para construir e  desenvolver o seu   modelo teórico-operacional —, “o marketing social  apropria-se dos conhecimentos   e técnicas mercadológicas, adaptando-as e  colocando-as a serviço da promoção e   difusão das inovações sociais,  do desenvolvimento e bem-estar social”. Dessa   Forma, no marketing  social trabalha-se com diretrizes e objetivos claramente   definidos,  metas mensuráveis, pesquisas e/ou avaliações de natureza quantitativa   e  qualitativa, além de visar o desenvolvimento de produtos sociais  destinados a   segmentos populacionais específicos, definidos como  públicos-alvo.
No marketing social, busca-se posicionar na mente desse  público as inovações   pretendidas. Implementar estratégias, criando,  planejando e executando campanhas   de comunicação. a fim de satisfazer  necessidades e expectativas que não estão   sendo atendidas. Estabelecer  novos paradigmas de ação social. O marketing social   propicia, ainda,  que sejam citadas, desenvolvidas e aplicadas novas técnicas de    intervenção, produzindo e ampliando conhecimentos e sua efetiva  aplicação no   mercado social.
Marketing não é... promoção — É comum o uso atrofiado do  conceito de   marketing, considerando apenas um dos seus componentes: a  promoção ou   publicidade. Nesse caso, fazer marketing seria o mesmo que  promover um produto,   idéia ou serviço, o que não é verdade.
...aparecer na mídia — Outro equivoco é afirmar que o  marketing se limitaria   a dar maior visibilidade a um produto, serviço,  ideia ou mesmo, uma causa social   — aumentando sua exposição  quantitativa ou qualitativa nos meios de comunicação   social, Isso  poderia ser uma das suas estratégias.
...VENDA — Um anúncio que pede um gerente de marketing não busca apenas um profissional de vendas, mas alguém capaz de trabalhar bem o seu produto — desde a Fase de concepção até o consumo, privilegiando sempre ponto de vista do consumidor.
...mágica — o feeling de um profissional capacitado poderá  ser o fator de   diferença no sentido de alcançar ou consolidar  vantagens competitivas. Mas esse   fator não substitui uma pesquisa  mercadológica, que ofereça respostas   científicas e objetivas para  questões concretas....VENDA — Um anúncio que pede um gerente de marketing não busca apenas um profissional de vendas, mas alguém capaz de trabalhar bem o seu produto — desde a Fase de concepção até o consumo, privilegiando sempre ponto de vista do consumidor.
Marcio Ruiz Schiavo é Diretor da Comunicarte | Marketing Cultura

 
 
 
