ÉPOCA DE MUDANÇA OU MUDANÇA DE ÉPOCA?
Por Marcio Schiavo
Revista Smart City Business
Junho, 2017
Mudanças ocorrem em todas as épocas, mas são poucas as
mudanças de época. A Era do Gelo, a Idade da Pedra, o Renascimento, a Revolução
Industrial, a Era Atômica, são exemplos de mudanças que influenciaram
determinantemente um período. No caso, a época é a própria mudança, e não
apenas um conjunto de fatos ocorridos entre duas datas.
A Era das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) é um
desses momentos de mudanças que não só caracterizam uma época, mas são capazes
de nominá-la. Não é um exagero afirmar que vivemos uma mudança de época. As
Tecnologias de Informação e Comunicação alteram completamente a circulação de
informações e o acesso ao conhecimento. De espectadores, as pessoas passam a protagonistas.
De leitores, a produtores de conteúdo. É comum que crianças e adolescentes
manejem celulares e tablets com conhecimento e destreza maiores do que seus
pais e mesmo seus professores. E quem os ensinou? Ninguém. Simplesmente
aprenderam. Essa é uma das diferenças substanciais da Era Digital: o
autoaprendizado. Assegurar o acesso universal à era digital é tarefa dos
poderes constituídos e também das empresas, pelas inovações contínuas presentes
em seus produtos e serviços. Já aprender e multiplicar o conhecimento é
responsabilidade de cada um. É claro que a produção do conteúdo importa.
Pode-se e deve-se disponibilizar formações e prever limites sobre o uso
responsável das mídias sociais. No entanto, sempre haverá alternativas de
escolhas e a decisão final sobre qual tecla pressionar é cada vez mais pessoal.
Mas existe ainda um novo protagonista neste enredo: o tutor/educador das mídias
sociais. Alguém alimenta o sistema que multiplicará as informações e dados
recebidos. Em tempo de inteligência artificial, onde o “pai dos burros” é o
Google, é fundamental perguntar: “Quem educa o Google?”. Quem alimenta a
plataforma que é capaz de responder a qualquer pergunta que lhe é formulada? E,
mais importante ainda, qual a ideologia e a intencionalidade das pessoas que
produzem conteúdo para o Google, que, por sua vez, transmitirá as informações
programadas para milhões de pessoas?
Seria ingênuo acreditar que o Google não tem ideologia e seu
compromisso restringe-se a informar com precisão fatos e conceitos, deixando
para os usuários as interpretações. Daí surge a “pós-verdade” ou “hoax” que,
para muitos, torna incontestável o que está na rede. Se não foi, passou a ser.
Se não disse, passou como dito. E se foi dito, verdade torna-se. A inovação
tecnológica tem que ter um compromisso ético indissociável com a inclusão e a
equidade social. Inovar é incluir. E as TICs são as novas protagonistas desse
processo. Na medida em que ganham escala, o custo da inovação cai e o acesso a
seus benefícios é cada vez maior, para um número maior de pessoas. E a educação
continua sendo a via natural para o exercício democrático. “É preciso educar o
soberano.” E não falamos apenas da educação formal, mas também dos processos
educacionais que estão além das salas de aula. As empresas conectadas e
inovadoras devem cuidar de educar seus públicos. Afinal, todo negócio hoje deve
trazer, em si mesmo, um propósito educativo.