VENDER NO SÉCULO XXI É EDUCAR
Jornal O Globo | março de 2009
Para especialista, educação social corporativa deve ser incrementada
O diretor-presidente da Comunicarte, Marcio Schiavo, pergunta: com quem as pessoas aprenderam a escovar os dentes? Com o governo ou com os fabricantes de escova e pasta de dentes? É uma forma de exemplificar o que é a educação social corporativa. Ou seja, o poder educativo das empresas é enorme e precisa ser aproveitado, não apenas para a melhoria dos negócios, como para o desenvolvimento da sociedade. Para discutir o conceito e divulgá-lo, a Comunicarte, que presta consultoria a empresas, governos e ONGs para a realização de projetos de responsabilidade social, está organizando a I Conferência Internacional de Educação Social Corporativa. O evento vai acontecer no Rio, em setembro, e contará com 350 a 400 representantes de 30 países.
Conceito: "O que nós estamos propondo é o conceito de educação social corporativa. Por que isso? Seria bastante absurdo se um grupo de professores de uma escola de ensino fundamental, por exemplo, entrasse numa montadora de carros e a gente dissesse a eles: resolvam o problema da crise do setor. Afinal, eles são professores, professores são aqueles que sabem. No entanto, imagina o desastre que isso seria. Mas ninguém considera um desastre um empresário propor soluções para a educação. O que estamos propondo? Fazer do negócio uma educação. Em vez de fazer aquilo que não sabe, o empresário tem uma obrigação elementar: educar por meio do que ele faz. Todo negócio tem uma educação intrínseca a ele. Vender no século XXI é educar."
Autoanálise: "Se você fabrica automóvel, ele também é um agente educativo. Mas como você transforma o carro num agente educativo? Qual é a educação do seu negócio? Isso é o que nós queremos que os empresários respondam."
Carros: "Nós não podemos, por exemplo, ter o trânsito como a maior causa de morte entre jovens no Brasil e não haver uma postura consciente da indústria montadora de carros. A promoção dos veículos continua tendo como base a potência, a velocidade, o uso no limite. Mas esse produto está causando um dano à sociedade muito grande. Como a indústria pode mudar isso? Queremos que a indústria não venda mais, estigmatizá-la? De maneira nenhuma. Queremos que ela assuma uma responsabilidade no pós-venda. É a educação para o uso."
Alimentos: "Entre os setores em que a educação social corporativa deveria estar mais presente, há também o da alimentação. Nós passamos de um país subnutrido para um país de obesos. Então, qual o conteúdo educativo que deve estar presente nos produtos oferecidos à população? Há muita coisa para evoluir nesse sentido”.
Instrumento: "A educação social corporativa deve ser feita essencialmente pela política de comunicação da empresa. Tem que haver um compromisso ético maior, um compromisso maior com a sociedade. Não pensar exclusivamente no lucro, mas no bem social como um todo”.
Motivação: "A motivação para uma empresa investir na educação social corporativa é conquistar e fidelizar mercado. A educação é inerente ao negócio. E promove a melhoria dos negócios. Como as pessoas aprenderam a escovar os dentes? Foi com o Ministério da Saúde ou com os fabricantes de escova e pasta de dente? Ao promover seus produtos e ao competir umas com as outras, as empresas fazem um esforço educacional. É claro que o objetivo é vender mais pasta e mais escova de dente. No entanto, o impacto sobre a população é benéfico”.
Consumidor: "O nível de exigência do consumidor também sobe. E com isso ganha toda a sociedade. Agora, isso é utópico? É claro que eu vou dizer que não. No entanto, eu prefiro ter um compromisso com a utopia do que com a realidade louca que está aí."