LUCRO FINANCEIRO X LUCRO SOCIAL NAS EMPRESAS
LUCRO FINANCEIRO DIVIDE ESPAÇO
COM O LUCRO SOCIAL NAS EMPRESAS
Assistencialismo X marketing social
Tendo como base essa definição, a grande maioria das empresas brasileiras, que atuam na área social, fazem assistencialismo, o que não desmerece, mas apenas muda o foco da ação. Do total de instituições em atividade no setor, menos de 15% desenvolvem marketing social. No entanto, os especialistas também apontam que o terceiro setor, representado pelas ONGs (Organizações-Não-Governamentais) e que hoje responde por 1,5% do PIB nacional, vai aumentar essa sendo que o grande impulso para o crescimento vem sendo dado pelas Associações, fundações, institutos e programas sociais mantidos por empresas.
Independente do tamanho da empresa, se micro, de pequeno, médio ou grande porte, o marketing social pode ser adotado por qualquer uma delas, desde que exista uma definição clara de objetivos e uma estratégia planejada. Segundo outro especialista no assunto, Miguel Fontes, mestre em desenvolvimento pela Universidade John Hopkins e diretor da John Snow Brasil, empresa especializada em consultoria e planejamento nessa área, o mais importante para mobilizar capital humano.
"Todo investimento é necessário, inclusive o financiamento, mas o marketing social não exige somas vultosas para ser eficiente. Eu preciso de um arquiteto e de material para planejar e construir um prédio que seja sede de uma instituição comunitária, que vai ser o ponto de partida para mudanças de comportamento. Tenho duas formas de conseguir isso: fazendo um orçamento e pagando ou mobilizando capital humano que possa executar a tarefa em função daquilo que se deseja transformar. Mais importante do que aplicar grandes somas é ter capacidade de Articulação", exemplifica.
Reflexos da transformação
Não é só a melhoria das condições de vida de uma determinada comunidade e o ganho de imagem de uma empresa que o marketing social reflete. Dentro da linha de transformação e mudanças de comportamentos, atitudes e mentalidades, as ações planejadas conseguiram despertar a atenção de um segmento importante para a própria formação de opinião, a imprensa. Nos últimos anos, à medida em que as empresas foram se integrando ao conceito de cidadania e o terceiro setor foi conquistando espaço, a imprensa também passou a refletir uma imagem diferente dos problemas sociais.
"Mais que somar dados novos a uma notícia, a imprensa passou a ser também agente de transformação", afirma Miguel Fontes, com a experiência de quem já coordenou uma pesquisa sobre a incidência de AIDS em crianças, cujo resultado direto da veiculação nacional na mídia foi o incremento da distribuição de medicamento anti-HIV pelo governo para as gestantes de baixa renda.
"Estamos vendo cada vez mais que reportagens sobre a exploração do trabalho infantil tem contribuído para que a sociedade tome consciência do problema e cobra ações efetivas de combate. Essas ações, por sua vez, são responsáveis pela retirada de milhares de crianças de trabalhos em condições insalubres em todo país e a recondução delas à sala de aula. A mesma coisa com relação à violência e à exploração sexual contra menores", completa Márcio Schiavo.
Outro exemplo de atuação constante na mudança de mensalidade até da própria imprensa é o trabalho realizado pela ANDI (Agência de Notícias dos Direitos da Infância), responsável pelo levantamento e avaliação das notícias sobre infância e adolescência publicadas nos veículos de comunicação de todo país. "A ANDI busca fontes importantes que deêm um novo olhar a todas estas questões e até sugere pautas aos veículos. Com este trabalho junto à mídia, o objetivo é, além de aumentar o espaço de matérias sobre crianças e adolescentes, qualificar os espaços existentes e até conseguir dos veículos, que não costumam abordar estes assuntos, uma mudança de postura", explica a jornalista Ana Penido, coordenadora da agência da ANDI em Salvador.
O trabalho da ONG constitui-se, em primeira instância, num levantamento de todas as notícias veiculadas sobre crianças e adolescentes, como denúncias de violência e maus tratos, uso de drogas, índice de gravidez precoce, exploração de mão-de-obra infantil, menores em situação de risco social, evasão escolar etc. depois, esse material é avaliado tanto quantitativamente quanto qualitativamente e os veículos recebem o resultado da avaliação através da publicação "Infância na Mídia" e de contatos da agência.
"Esse trabalho de sensibilização busca tanto mudar a maneira dos veículos enxergarem a questão da infância nas Brasil, quanto conscientizar sobre a importância de divulgar essas notícias", continua Ana Penido. Além do trabalho da ANDI, outros incentivos como o título Jornada Amigo da Criança, concedido a 50 profissionais a área anualmente e o Grande Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo, iniciativa do Instituto Ayrton Senna, para premiar reportagens sobre infância, também são exemplos da transformação operada pelo marketing social.
Ações concretas em Salvador
O Instituto Newton Rique ainda está nascendo em Salvador e, de acordo com Izabel Portella, sua superintendente, o Instituto tem duas áreas estratégicas de atuação. A primeira diz respeito a Responsabilidade Social e a segunda a Investimento Social. Na área da Responsabilidade Social, pretende-se desenvolver uma cultura dentro da organização Nacional Iguatemi de implementação de ações socialmente responsáveis, como a não utilização de mão-de-obra infantil, o respeito à diversidade, comprometer-se a contratar e promover pessoas com experiências e perspectivas diferentes, além da busca por parceiros/ fornecedores socialmente responsáveis.
Na área de Investimento Social, o Instituto elegeu o campo da arte-educação como área de atuação, adolescentes como público-alvo, e as escolas como local de desenvolvimento desses projetos. A missão do Instituto Newton Rique é - Educar, pela arte, adolescentes para a vida e o exercício da cidadania".
Na capital baiana, dezenas de outras instituições já realizam trabalhos que rendem frutos promissores neste setor, como o Liceu de Artes e Ofícios, que desenvolve atividades voltadas para a profissionalização e capacitação do adolescente de baixa renda; o Projeto Axé, que detém até uma marca própria de produtos de qualidade, produzidos pelos jovens atendidos, e comercializados em lojas nos shoppings e no aeroporto; a Fundação Cidade mãe, antes vinculada à Prefeitura Municipal de Salvador e que atualmente funciona independente e tem um trabalho sócio-educativo de reconhecimento internacional; e a Escola Brown para educar através da música. Estes e outros projetos demonstram claramente que marketing social, como garantem os consultores Márcio Schiavo e Miguel Fontes, "não é claramente, mas promoção de mudanças significativas na sociedade, em busca de um futuro melhor e mais promissor".
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Jornal Mais e Melhor
Fevereiro/Abril de 2000