2050: visões do futuro

O 4.º Congresso Internacional sobre Desenvolvimento Sustentável, realizado no Pier Mauá do Rio de Janeiro, de 27 a 29 de setembro passado, trouxe à luz importantes constatações sobre questões ligadas à sobrevivência da humanidade no futuro. O próprio tema central do encontro, considerado uma prévia do Rio +20, foi “Visão 2050: agenda para uma nova sociedade”.

Uma primeira advertência séria foi dada por Antônio Guimarães, CEO da Syngenta, empresa que é uma das líderes mundiais na área de agronegócios, bastante comprometida com a agricultura sustentável através de inovação em pesquisa e tecnologia. De acordo com Guimarães, existe o risco da escassez agrícola no futuro, a ser causada pelo crescimento demográfico. O aumento da população poderá fazer com que o crescimento agrícola não suporte a pressão da demanda, acarretando uma elevação do preço dos alimentos. Guimarães acredita que a indústria deverá fazer investimentos para desenvolver produtos dentro dessa nova realidade, pois, com o aumento da população, a indústria precisará produzir o dobro do que produz hoje. Para atingir essa meta, Guimarães realça que o governo precisará encetar esforços para estimular e acelerar do desenvolvimento, que o setor privado precisará investir em novas soluções sustentáveis e que a sociedade deverá fazer sua parte, através do consumo consciente.

Em seu pronunciamento, o diretor do Conselho Mundial de Negócios para o desenvolvimento Sustentável, Peter Paul Van de Wijs, também enfocou o tema do consumo consciente e mostrou como cada setor da economia pode contribuir com boas idéias e como é preciso comprometer-se com as mudanças que irão garantir a preservação do nosso planeta. Esse Conselho, que é internacionalmente conhecido como World Business Council for Sustainable Development (WBCSD), tem sua sede em Genebra, na Suíça, e uma filial em Washington. Consiste numa associação de 200 companhias de 30 países e de 20 setores industriais, que lidam diretamente com a questão do desenvolvimento sustentável. A missão do WBCSD é conseguir que líderes empresariais se tornem os catalisadores da mudança da economia mundial em direção ao desenvolvimento sustentável, apoiar as empresas no campo do licenciamento para que possam operar, inovar e crescer num mundo cada vez mais moldado pela necessidade de se desenvolver sem comprometer as gerações futuras.

Em recente artigo publicado no site do WBCSD, Peter Paul Van de Mijs relata algumas das tendências das grandes empresas no caminho da sustentabilidade: “como foi registrado pelo jornal Washington Post, nem uma única fábrica movida a carvão foi construída nos Estados Unidos em 2010, e isso numa época em que as propostas ligadas a mudanças climáticas eram consideradas mortas na América”. O diretor do WBCSD também apontou duas outras atitudes empresarias que ele considerou exemplares, igualmente nos EUA: a Walmart anunciou planos de eliminar 20 toneladas de gases provocadores do efeito estufa sua cadeia produtiva; a GE, por sua vez, divulgou a compra de 25.000 carros elétricos, a maior compra do gênero na história daquele país. Para Peter Paul, há hoje no mundo fortes evidências de que o mundo dos negócios está emprenhado em criar uma onda tecnológica de baixo consumo de carbono, que irá estimular investimentos em inovação numa escala planetária.


Outro palestrante do encontro foi o co-presidente da Carta da Terra, Brendan Mackey, que relacionou os principais cuidados que o planeta precisa nos próximos anos. Entre os tópicos abordados, Mackey citou a integridade ecológica, a justiça social e econômica, a democracia, a não-violência e a paz. Ele também definiu os objetivos da economia verde como sendo a conjunção de quatro fatores: economia, sociedade, ecologia e ética. Ao final de sua fala, ele pontuou que o mundo está incorporando, cada vez mais, os valores propostos pela Carta da Terra.

Para quem ainda não sabe, o documento intitulado Carta da Terra é o resultado de uma década de diálogo intercultural, em torno de objetivos comuns e valores compartilhados. O projeto da Carta começou como uma iniciativa das Nações Unidas, mas se desenvolveu como uma iniciativa global da sociedade civil. No ano 2000, foi formada a Comissão da Carta da Terra, entidade internacional independente, que redigiu e divulgou o documento como a carta de todos os povos do planeta. A redação do documento envolveu o mais inclusivo e participativo processo associado à criação de uma declaração internacional. Esse processo é a fonte básica de sua legitimidade como um marco de guia ético. A legitimidade do documento foi fortalecida pela adesão de mais de 4.500 organizações, incluindo vários organismos governamentais e organizações internacionais. O texto da Carta pode ser encontrado no link http://www.cartadaterrabrasil.org/prt/text.html.

Do exposto, pode-se concluir que nenhuma grande empresa, seja nacional ou multinacional, pode fugir de seu papel como copromotora do desenvolvimento sustentável. Assim como deve ter, também, preocupação social efetiva, voltada para a diminuição dos problemas vinculados à miséria que grande parte da população mundial ainda enfrenta. A aldeia global não comporta mais organizações nem governos isolados destas questões.

MÁRCIO SCHIAVO – Diretor-Presidente da COMUNICARTE – Marketing Cultural e Social Ltda. e Vice-Presidente de Responsabilidade Social da ADVB-PE.

MÁRIO MARGUTTI – Consultor e Assessor da COMUNICARTE – Marketing Cultural e Social Ltda.

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