Vem aí a Rio+20

Vinte anos depois da realização da ECO92, o Rio de Janeiro vai sediar em 2012 um novo encontro de lideranças mundiais para debater, sob a chancela da Organização das Nações Unidas, o Desenvolvimento Sustentável. O evento ganhou o nome de Rio +20 e será realizado de 4 a 6 de junho.

Do ponto de vista da ONU, o grande objetivo do encontro internacional será garantir, mais uma vez, o compromisso político dos governos com a sustentabilidade. Uma brochura oficial sobre o encontro realça: “Rio +20 é uma chance de superar as práticas usuais de negócios e agir para acabar com a pobreza, resolver o problema de destruição ambiental e construir uma ponte para o futuro”.

Para o Secretário-Geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, a Rio +20 será “um dos mais importantes encontros globais do nosso tempo sobre desenvolvimento sustentável”. Acrescenta ele: “No Rio, nossa visão deve ser clara: uma economia verde sustentável que proteja a saúde do meio ambiente ao mesmo tempo em que dá suporte à conquista dos Objetivos do Milênio (ODM), através do crescimento da renda, trabalho decente e erradicação da pobreza”.

Neste contexto de otimismo, vale relembrar a definição original de desenvolvimento sustentável, que apareceu pela primeira vez no famoso Relatório Brundtland, em 1987: “é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações de satisfazer suas próprias necessidades”.
Os desafios a enfrentar não são nada pequenos. Conforme dados da própria ONU, a conjuntura mundial pode ser descrita por algumas preocupantes estatísticas:

O mundo abriga atualmente 7 bilhões de pessoas. Em 2050, serão 9 bilhões.
Uma em cada cinco pessoas – 1,6 bilhão de seres humanos – ganha apenas US$ 1.25 por dia, ou menos. Um bilhão e meio de pessoas não tem acesso a eletricidade e dois bilhões e meio não têm banheiro. Quase um bilhão ainda passa fome todo dia.
A emissão de gases que provocam o efeito estufa continua a crescer e mais de um terço das espécies vivas conhecidas poderá ser extinto se a mudança climática permanecer no mesmo ritmo.

Se quisermos deixar um mundo habitável para nossos filhos e nossos netos, os desafios da pobreza crescente e da destruição do meio ambiente precisam ser enfrentados agora. No futuro, os custos serão maiores – incluindo o crescimento da pobreza e da instabilidade, em um planeta degradado – se nós falharmos em solucionar adequadamente os desafios críticos do momento presente.

Nesse panorama, conforme brochura oficial da ONU, a “Rio +20 oferece uma oportunidade para que todos nós possamos pensar globalmente e agir localmente para assegurar nosso futuro comum”.

Diante deste quadro, Sha Zukang, que será o Secretário-Geral da Conferência Rio +20, adverte de modo contundente: “O desenvolvimento sustentável não é uma opção! É o único caminho que pode conduzir a humanidade a partilhar uma vida decente neste nosso único planeta. Rio +20 dá à nossa geração uma oportunidade de escolher esse caminho”.

Ao longo da Rio +20, deverá ser feito um levantamento dos avanços no campo do desenvolvimento sustentável, a partir do documento elaborado na ECO92 por cerca de 10.000 delegados de mais de 170 países – e, é claro, verificar as lacunas ainda existentes no que tange ao compromisso efetivo com a sustentabilidade.

O centro dos debates será o conceito de economia verde, cunhado pelos técnicos do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas para definir o modelo econômico que “resulta no aperfeiçoamento das condições de bem-estar humano e da equidade social, ao mesmo tempo em que reduz significativamente os riscos para o meio ambiente e a escassez de recursos naturais”. De acordo com o último relatório do Global Compact (2011), o tema já foi debatido entre representantes de países pobres e países ricos em uma reunião preparatória, na sede da ONU, em Nova Iorque. Na ocasião, os delegados dos países menos desenvolvidos manifestaram claramente seu receio de que a estrutura “verde” de produção venha a sufocar seu crescimento econômico.

E aqui fazemos uma pausa para citar o artigo “Economia colorida”, do senador Cristóvão Buarque (PDT-DF), publicado no jornal O Globo em 16/07/2011, que proporciona uma visão mais ampla e mais complexa da economia contemporânea:
“A economia verde começou a ser aceita, mas ela não representa a metáfora certa. Pelo menos cinco cores são necessárias para definir a economia do futuro: o verde da sustentabilidade ambiental; o vermelho da justiça social; o branco de uma economia produtiva para a paz; o amarelo da criação de bens de alta tecnologia; e o azul da economia comprometida mais com o bem-estar do que com a produção e a renda”.

Em seu artigo, o senador desenvolve instigantes reflexões. Eis uma delas: “Não basta a economia verde em cada carro, se no nível macro o número de carros cresce tanto que as florestas darão lugar a plantações de cana para alimentar toda a frota”. Outra: “Também não basta a economia substituir o combustível fóssil por renovável, se o perfil da demanda continuar voltado para a minoria de renda superior”.

Para o senador, o mundo precisa da economia vermelha que erradique a pobreza, dê educação para todos, diminua as desigualdades e aumente as oportunidades de emprego. Assim como a economia branca também é necessária, pois “a produção de armas não deve ser considerada um resultado positivo da economia, embora seja importante para a defesa”. Pelo mesmo motivo, “o valor do PIB deve descontar a produção dos bens de destruição e serviços de segurança e também o tempo perdido pelas pessoas na ida e vinda diária de um lugar para o outro”. Por fim, é preciso construir a economia azul, que considere o bem-estar das pessoas mais importante que a produção e elimine “os entraves que dificultam a busca da felicidade”.

Outro foco da Rio +20 será a montagem de “estruturas institucionais para o desenvolvimento sustentável”. Trata-se de um processo que incluirá a criação e o fortalecimento de equipes de trabalho formais e informais, de organizações, de redes de cooperação e novos arranjos que permitam a tomada de decisões e a implementação de medidas favoráveis ao desenvolvimento sustentável. Os resultados da conferência serão condensados em um “Relatório-Síntese”.

Ambientalistas também já estão se manifestando, e sinalizam seu temor de que a Rio +20 não passará de um simples balanço do que já foi feito e do que falta fazer, sem resultados efetivos que representem uma verdadeira mudança do atual modelo econômico.
É importante que cada indivíduo que participar do evento atue no sentido de defender o futuro do planeta. Depois do fracasso da reunião de Copenhagen voltada para o tema da mudança climática, paralisada pelas lutas de poder entre as grandes nações, não devemos ter muitas expectativas em relação à Rio +20. Dificilmente será uma conferência decisiva. Mas, de qualquer modo, será um momento histórico relevante para a humanidade, mesmo que não passe de um exercício de educação coletiva.

Devemos continuar ambiciosos em relação às metas ideais, ao projeto global do desenvolvimento sustentável, porém modestos em relação aos resultados dos debates. É ilusório acreditar que haverá um consenso emergencial entre os líderes que representarão as diversas nações. Mas as suas discordâncias permitirão fazer avançar a discussão sobre os grandes temas, principalmente aqueles cujas soluções não podem mais ser adiadas. Espera-se que a cúpula participante não se torne refém das grandes potências, como ocorreu em Copenhagen, para que seja possível emergir uma visão multicultural das consciências políticas participantes. Uma visão multicolorida, como a economia ideal vislumbrada pelo senador Cristóvão Buarque. Uma visão agregadora, que conduza à mudança dos modelos predatórios de crescimento econômico e fortaleça o sonho de construir uma comunidade que possa, finalmente, ser chamada de planetária.

MÁRCIO SCHIAVO – Diretor-Presidente da COMUNICARTE – Marketing Cultural e Social Ltda. e Vice-Presidente de Responsabilidade Social da ADVB-PE.
MÁRIO MARGUTTI – Consultor e Assessor da COMUNICARTE – Marketing Cultural e Social Ltda.

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