Cidades: o novo cenário da sustentabilidade

Em todo o mundo, as grandes cidades podem ser o local privilegiado do processo de transformação para um novo modelo de economia, capaz de promover simultaneamente o desenvolvimento econômico, social e ambientalmente sustentável. Essa foi uma das conclusões otimistas da plenária Planejando Cidades Sustentáveis, que aconteceu durante a oitava edição do Encontro Íbero-Americano sobre Desenvolvimento Sustentável (EIMA 8), realizado recentemente em São Paulo, de 17 a 20 de outubro.

Organizado pela Fundação Conama da Espanha e pela Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, o encontro mobilizou palestrantes de diversos setores da sociedade: poder público, sociedade civil organizada, pensadores acadêmicos e representantes de empresas privadas. Todos apontaram os centros urbanos como os cenários a serem trabalhados dentro do processo de transformação da economia para um modelo mais sustentável.

Veja-se, por exemplo, a opinião de Ladislau Dowbor, professor titular da PUC-SP: “As cidades devem ser protagonistas das mudanças. A maior parte da população mundial vive nos centros urbanos e é no âmbito local que as pessoas podem cooperar mais efetivamente”. De acordo com o acadêmico, é nas cidades que se originam as principais decisões e diretrizes políticas, e são os centros urbanos que possuem as melhores condições econômicas para financiar o processo de transformação.

Já outro participante do encontro, o arquiteto e urbanista espanhol Fernando Prats, preferiu usar uma metáfora belicosa, quando realçou a importância das cidades como forças de mudança do modelo econômico: “Elas são o campo de batalha”, provocou ele. Prats também tem a convicção de que é preciso criar um Estatuto de Sustentabilidade Urbana, um documento que seria uma mescla de vontade política dos dirigentes públicos e sociedade civil atuante, com o objetivo de dar ao tema uma lógica mais pragmática.

Algumas mudanças estruturais seriam fundamentais no processo. Para o subdiretor de Projetos Metropolitanos de Medellín da Colômbia, Juan Manuel Patino, é possível, por exemplo, contribuir para a mobilidade urbana com sistemas públicos de transporte de baixo custo operacional. Assim seria possível superar os problemas das cidades projetadas em função do carro individual, que acabam criando zonas de exclusão das camadas mais pobres, que ficam condenadas à pouca mobilidade. O metrô aéreo da nova Medellín é uma das apostas do poder público local nesse sentido, planejado para descongestionar o tráfego de veículos nas vias convencionais da cidade. Testemunhou Prats: “Não existem fórmulas prontas, mas cada cidade pode encontrar sua própria resposta frente à demanda”. Uma forma saudável de sublinhar que boas idéias são sempre bem-vindas, mas as soluções efetivas sempre dependem da população e das condições culturais locais. Em outras palavras, o jogo da democracia participativa é sempre preferível ao recurso das imposições feitas por órgãos públicos, de cima para baixo, sem consultar e sem envolver as comunidades.

A cidade anfitriã do encontro, São Paulo, mostrou que está fazendo a sua parte. O secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente, Eduardo Jorge Martins Alves Sobrinho mostrou que a prefeitura conseguiu reduzir em 12% o envio de gases nocivos à atmosfera, por meio da construção de usinas de biogás nos aterros sanitários de São João e Bandeirantes. Em São João, o gás é utilizado por uma usina termelétrica, que produz energia limpa o suficiente para abastecer 800 mil pessoas, número equivalente à população de Teresina, no Piauí.

O diretor e vice-presidente executivo do Instituto Ethos, de São Paulo, proporcionou o fecho de ouro ao evento, apresentando o Programa Cidades Sustentáveis. Trata-se de uma iniciativa de alcance nacional, promovida pelo Ethos e diversos outros parceiros, que consiste em influenciar os cidadãos para que estes, por sua vez, pressionem prefeitos e agentes econômicos na direção do desenvolvimento sustentável. A influência, neste caso, é vista como um efeito dominó. Se a demanda for qualificada, a pertinência e a adequação das ações voltadas para o desenvolvimento sustentável aumentam. Comparando o processo com a educação, seria como fornecer aos pais os alunos instrumentos de avaliação que acarretariam uma pressão pela melhoria do ensino.

Nesse horizonte, a sociedade civil não seria apenas um gigante a ser acordado, mas uma força motriz, corresponsável pelo processo de mudança. Seu papel não estaria reduzido ao voto nas eleições, mas na pressão por orçamentos participativos e na tomada de atitudes culturais mais firmes. Ao mesmo tempo, é preciso mudar a visão das crianças e jovens das zonas rurais, que almejam por um futuro mais rico em um lugar cheio de edifícios e carros, justamente o que se pretende evitar nos novos caminhos a serem trilhados para conquistar a sustentabilidade dos grandes centros urbanos.

Para obter mais informações sobre o Programa Cidades Sustentáveis, é só acessar o link http://www.cidadessustentaveis.org.br/. O site disponibiliza mais de 300 indicadores úteis, modelos para relatórios de prestação de contas e referências internacionais de boas práticas urbanas mais sustentáveis.

MÁRCIO SCHIAVO – Diretor-Presidente da COMUNICARTE – Marketing Cultural e Social Ltda. e Vice-Presidente de Responsabilidade Social da ADVB-PE.

MÁRIO MARGUTTI – Consultor e Assessor da COMUNICARTE – Marketing Cultural e Social Ltda.

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