A IMPORTÂNCIA É INTERNALIZAR O CONCEITO NOS FUNCIONÁRIOS

Jornal O Globo | Razão Social | Março 2007
Por André Miranda

Comemorando 15 anos de mercado em 2007, a Comunicarte foi fundada com o objetivo de ajudar empresas, governos ou ONGs a desenvolver projetos sociais. Hoje, são cem funcionários trabalhando em 15 estados brasileiros. O diretor-presidente da empresa, Marcio Ruiz Schiavo, explica que, desde o início da comunicarte, houve avanços no setor da responsabilidade social no brasil e garante que é possível calcular o lucro social.

O Globo: Vocês começaram a atuar no mercado há 15 anos. Como tem evoluído a responsabilidade social das empresas desde então? 

Marcio Ruiz Schiavo: Em geral, houve uma evolução. A responsabilidade social surge numa empresa por etapas. Num primeiro momento, a empresa não faz nada. Depois, ela resolve dar um dinheirinho para creches ou escolas. De repente, vê que aquele dinheirinho não é tão “inho” assim e arruma alguém para cuidar dessa verba, para que ela não seja usada de forma incorreta. Na maioria das vezes, são os setores de RH ou de Serviço Social que ganham essa tarefa. Em seguida, a empresa determina um valor anual, cria um orçamento e designa um gestor para esse orçamento. Aí cria-se um departamento. Depois, cria-se uma comissão, porque a empresa entende que a responsabilidade social não pode ficar apenas na mão de uma pessoa. E, por fim,
o último estágio é entender que nada disso é necessário, e o importante mesmo é internalizar o conceito nos funcionários da empresa. Ter um departamento específico pode querer dizer que os outros não têm
responsabilidade social. Até o sujeito que compra papel para a copiadora tem que saber comprar
papel segundo esse conceito.

O Globo: Mas os empresários realmente acreditam na responsabilidade social? 

Schiavo: Felizmente, hoje a maioria dos empresários tem consciência. As empresas começaram a ser dirigidas por gerações mais novas e são essas pessoas que mostram mais preocupação. São pessoas que foram formadas dentro de um mundo com uma consciência ambiental maior. Mesmo que o empresário da nova geração ainda seja um selvagem no procedimento capitalista, ele acaba aderindo à responsabilidade social. Quando pegamos as declarações de visão e missão das empresas, vemos nos textos palavras como “desenvolvimento local”, “desenvolvimento sustentável”, “respeito ao ambiente”, “responsabilidade social”. Há dez anos, não havia nada disso.

O Globo: Então é possível dizer que há uma conscientização maior?

Schiavo: Na verdade, ainda tem muita gente que entra por modismo. Outros, entram apenas porque há pressão de acionistas ou de clientes, como no caso de empresas que estão numa cadeia produtiva que exige resultados sociais. Mas essas são formas de uma empresa aderir à responsabilidade e não podemos reclamar. O desafio, depois, é conquistar esse empresário, aproveitando a porta de entrada aberta, mesmo que não seja a porta da frente. Depois que a responsabilidade social entra no organismo da empresa, a idéia é atuar viroticamente e fazer com que todo funcionário fique orgulhoso por estar participando.
O Globo: O senhor falou das exigências do mercado. Existe também um retorno para as empresas?
Schiavo: O mercado tem respondido bem. As empresas que atuam no setor acabam tendo uma cotação maior de suas ações. Outras, menores, credenciam-se junto às grandes para realizar negócios. Existe, sim, um resultado financeiro. A gente se preocupa em mostrar esse lado, de que é bom para os negócios.
Usamos muito o conceito do sociólogo italiano Domenico de Masi: negócio é a negação do ócio. É tudo o que se faz quando não se está fazendo nada. Assim, o negócio social tem que fazer parte do negócio da empresa, se não vira uma coisa artificial.

O Globo: É possível calcular o lucro social de uma empresa?

Schiavo: Sim, é possível. Para calcular o capital social é necessário entender de quanto é o retorno para a sociedade. Diferentemente do capital, quanto mais você usa o capital social, mais ele cresce.Quanto mais você gasta, mais você acumula. Imagine uma empresa que atue em projetos educacionais, por exemplo. Pelo alto índice de repetência, um adolescente fica em média 12 anos na escola para cumprir os oito que são necessários para se formar. É 50% a mais do tempo e do gasto necessários. Uma criança que custaria 10 passa a custar 15. Isso é orçamento. Na hora que se melhorar o sistema e se fizer com que o adolescente se forme em oito anos, haverá uma economia daqueles 50% a mais.

O Globo: Além da educação, há outros exemplos? 

Schiavo: Há aqueles casos de empresas que pedem e não conseguem licenças ambientais. Nós trabalhamos há pouco tempo com uma que não havia conseguido uma licença porque o Ibama achou que a comunidade não estava devidamente informada sobre o projeto. Era uma situação relativamente simples, mas que fez com que a empresa pagasse uma multa diária até que o problema fosse revertido. Com esses casos, é possível mostrar uma economia para o empresário.

O Globo: Como surgiu a Comunicarte? 

Schiavo: Eu trabalhei durante 20 anos, de 1970 a 1990, no terceiro setor, atuando em movimentos sociais nacionais e internacionais. Era um momento em que os três setores estavam evoluindo e adotando práticas semelhantes. A empresa adquiria mais consciência social; o estado, mais capacidade empresarial; e a ONG buscava instrumentos de mercado para ser melhor gerenciada. Criamos a Comunicarte para ser uma empresa voltada para o desenvolvimento social, a partir de ações de marketing social e cultural. Dessa forma, atendemos os três setores, concedendo programas de desenvolvimento humano, formatando políticas sociais e reorientando programas governamentais de desenvolvimento social. As empresas começaram a ser dirigidas por gerações mais novas e são essas pessoas que mostram mais preocupação”

Postagens mais visitadas deste blog

CONCEITO E EVOLUÇÃO DO MARKETING SOCIAL

TECNOLOGIA SOCIAL: O QUE É?

A produção cultural e a responsabilidade social corporativa

A importância do merchandising social

Existe morte... depois da morte.

NEM BENEMERÊNCIA NEM LIBERALISMO: O SOCIAL EM UM NOVO ENFOQUE

3E Sistema de Informação Gerencial Socioambiental

ÉPOCA DE MUDANÇA OU MUDANÇA DE ÉPOCA?