MERCHANDISING SOCIAL EM MALHAÇÃO
Conjuntura Social #5 | Novembro de 2000
MERCHANDISING SOCIAL EM MALHAÇÃO. Marcio Ruiz Schiavo a Eliesio N. Moreira. Malhação, telenovela dirigida aos adolescentes, constitui um belo exemplo de uso educativo de programas televisivos.
De abril a junho. apresentou 137 ações de merchandising social. O grupo temático mais prevalente foi Outras Questões Sociais, com 36 ações sobre preconceitos racial e social, violência na escola, direitos das pessoas com necessidades especiais e convivência familiar. Sexualidade foi o segundo grupo mais prevalente, com 28 cenas. Neste caso, as questões abordadas relacionavam-se à virgindade feminina; ansiedade em relação à primeira relação sexual; uso do preservativo para prevenir as DST/AIDS e a gravidez não-desejada.
No grupo Saúde Reprodutiva, destacaram-se as cenas relacionadas à gravidez de Marina e ao nascimento de Pedrinho, seu filho. Foram freqüentes as referências ao aleitamento materno, mostrado como a melhor forma de nutrição dos bebês, O tratamento das cenas foi tecnicamente correto e esclarecedor. Fato semelhante ocorreu com os grupos Relações de Gênero e Direitos Infanto-Juvenis. No grupo Educação, duas seqüências se destacaram:
1ª) As dificuldades de Marina para conciliar os estudos e os cuidados com o filho foram tratadas de maneira problematizadora, contribuindo para que os adolescentes reflitam sobre as conseqüências da gravidez precoce.
2ª) As conversas entre professores do Múltipla Escolha, que planejavam elaborar um programa interdisciplinar, enfatizaram a necessidade de se agregarem outros conteúdos e atividades educativas às disciplinas tradicionais.
Malhação também propiciou a discussão de condutas e valores. Duas personagens (Helô e Marina) estavam com peso acima do normal e tornaram-se alvo de gozações. Então, fazem tudo para emagrecer, adotam dietas mirabolantes e deixam de se alimentar adequadamente. Helô acaba tendo bulimia. O médico que a atendeu explicou detalhadamente o que ocorria, alertando-a para que não deixasse levar pela “ditadura da balança” e não fizesse dietas sem orientação médica.
Outro aspecto importante surgiu das características quase opostas das personagens Bia e Joana. A primeira é do tipo gatinha, bonita, muito vaidosa; sua preocupação é a aparência: roupas da moda, penteados sofisticados, dietas para manter o peso. Joana não é tão bonita, não liga muito para roupas, joga futebol e se engaja nas campanhas sociais do Colégio. E foi ela quem mais atraiu o interesse dos adolescentes, tanto de outros personagens (Marcelo e Perereca) quanto da vida real. “Se tivesse que escolher entre as duas, ficava com a Joana” , diz Eduardo Neves, 13 anos. “É legal ver o que as meninas têm por dentro”. Sendo assim, os meninos estariam mais interessados em valores perenes e profundos. O autor, Emanuel Jacobina, concorda: “É por isso que os meninos se interessam por ela. Estão buscando o que é único e especial”.
Ganhou destaque, também, a campanha contra a violência realizada pela comunidade escolar. Tudo começou com uma briga num jogo de pólo aquático. Dias depois, jogadores adversários começaram a provocar alunos do Múltipla Escolha. Simultaneamente, pequenos incidentes detonavam atos de violência entre os alunos. No auge da tensão, alguns alunos iniciam uma campanha contra a violência. Logo, professores e pais aderem à campanha e o Prof. Vítor lança o Movimento Pela Paz. Isso criou oportunidades para abordar as atitudes e comportamentos que tendem a gerar atos de violência, sendo que o movimento constituiu um passo à frente: não se tratava de combater a violência; e sim, de construir a paz. Este novo enfoque foi trabalhado em cenas diversas, que ressaltaram:
• o respeito às diferenças de opinião;
• a procura de soluções consensuais para os conflitos;
• os benefícios da ação cooperativa, e não, concorrente.
Esta sequência constituiu, sem dúvida, importante contribuição ao desenvolvimento de uma cultura da paz junto aos adolescentes e jovens.