A PROPAGANDA SUBLIMINAR DO BEM:
Revista Imprensa | Julho - 2001
Como a televisão pode revolucionar a cidadania
Murilo de Aragão, de Brasília.
Aqui mesmo, nesta coluna, elogiei a iniciativa de Glória Perez em incluir campanhas de busca de crianças desaparecidas em uma de suas novelas. A iniciativa permitiu o reencontro de dezenas de famílias com seus filhos e filhas que estavam sumidos no mundo.
Na época, elogiei a iniciativa e desejei que ela se perpetuasse. Infelizmente, o fim da novela trouxe o fim da campanha. Seria importante que a televisão, de alguma forma, dedicasse espaço regular para divulgar fotos e dados de pessoas desaparecidas.
Em meio à baixaria que a popularização da televisão tem produzido, vemos iniciativas criticamente importantes para o país. Uma dela é o chamado merchandising do bem praticado pela TV Globo em suas novelas. De forma discreta e eficaz, mensagens importantes para a sociedade estão sendo transmitidas para os telespectadores.
Campanhas sobre segurança no trânsito, campanhas de vacinação, uso de camisinhas, combate à dengue, entre outras, são e serão levadas ao grande público por meio de mensagens inseridas nos diálogos das novelas. A iniciativa é de vários autores de novelas da Globo e conta com o apoio de instituições importantes como o Centro de Mídia e População e o Instituto Ayrton Senna.
Considerando o imenso potencial de formação de opinião que os atores têm junto ao público, a iniciativa poderá ter o condão de atenuar problemas sociais gravíssimos. No entanto, apenas a TV Globo atua de forma sistemática no sentido de divulgar mensagens. É necessário que todas as emissoras de televisão atuem na mesma direção.
Outro aspecto está nos limites temáticos. Acredito que outros temas devam ser objeto de mensagens. Questões ecológicas e ambientais devem ter mais espaço. Ações comunitárias também devem ser estimuladas. Mesmo questões básicas, como o manejo do lixo doméstico ou cuidados de higiene com bebês, até questões mais críticas, como o consumo de drogas e o engajamento dos jovens em ações violentas, também devem ser tratados.
"O merchandising do bem, praticado pela Rede Globo, deveria ser estimulado"
Ampliando o chamado merchandising do bem, obviamente dentro de limites toleráveis, problemas básicos das grandes cidades, como o acúmulo de lixo, o entupimento de bueiros, a reciclagem de embalagens, entre outros, podem ser atenuados. Basta que exista uma ação: determinada. Não basta atacar problemas "politicamente corretos", como doação de órgãos ou uso de camisinha. As campanhas devem buscar vários níveis de interação com a sociedade.
Por fim, algumas críticas. Algumas iniciativas importantes de cunho comunitário são apresentadas em horários de pouquíssima audiência. Outro aspecto relevante é o engajamento do rádio nessas campanhas. O rádio tem um poder de difusão da informação que não pode ser esquecido. E, sem querer promover qualquer espécie de patrulhamento ideológico nem de promoção de partidos políticos, seria bom pensar em campanhas que estimulassem o voto em políticos honestos.
O Brasil reúne tantos problemas de educação e conscientização política e social e, por outro lado, uma televisão de primeira classe. Assim, não há por que não utilizá-la de forma objetiva e democrática para o fortalecimento de nossa cidadania.