O TERCEIRO SETOR

Revista Imprensa | Março de 2001


Parceria do Terceiro Setor

Ele está envolvido com o Terceiro Setor desde 1971, quando se falava em socieda de civil e filantropia, em vez de "responsabilidade social empresarial" ou "investimento social privado".
O publicitário e jornalista Márcio Schiavo criou, em 1991, a Comunicarte, uma empresa que promove a aplicação das ferramentas do mundo empresarial no trabalho social. Seu papel é ajudar o setor privado a atuar socialmente e fazer com que as ONG's absorvam modernos métodos de gestão. Há três anos, montou a revista Conjuntura Social, em parceria com o Instituto Ayrton Senna, dirigida ao terceiro setor, empresários interessados na área social e jornalistas.

Imprensa - Qual é a diferença entre entidade filantrópica, ONGS e Institutos?
Márcio Schiavo - Ações filantrópicas dizem respeito à compensação de perda transferência de sobras de quem tem muito para quem não tem. Não há a preocupação de transformar a realidade. Já os projetos ligados a fundações, institutos empresariais ou ONG's, pretendem uma transformação da realidade. Um trabalha com a necessidade sentida: fome, frio, idosos sem casa. O outro trabalha com grandes programas como aperfeiçoamento do sistema democrático, luta pela cidadania, igualdade entre as cidadanias, inclusão social...

Imprensa - E qual é o método do terceiro setor?
MS - Ele usa as ferramentas do mundo empresarial para produzir resultados semelhantes aos de uma empresa: eficiência, qualidade, independência, segmentação de mercado. A diferença é que, enquanto a empresa busca o lucro, na área social busca-se o aumento do capital social e a equidade social. Infelizmente, muitas empresas têm atuado na área social como recurso de imagem.
É como se a miséria fosse uma nova forma de mídia.

Imprensa - Ou seja, um marketing com a miséria.
MS - Eu chamo isso de "miséria". É fazer mídia própria com a miséria alheia: "Eu sou bonzinho, veja o meu trabalho e compre meu produto". E a questão não é essa, O que se busca é a transformação da sociedade, a distribuição dos resultados do processo produtivo.

Imprensa - Como atua uma empresa que é socialmente responsável?
MS - Ser socialmente responsável é uma obrigação da empresa, independente de ela estar no terceiro setor. Não é mérito pagar os funcionários em dia, recolher impostos, cuidar do meio ambiente e atuar promovendo o voluntariado entre seus funcionários. Além disso, ela pode criar um Instituto Empresarial para atuar junto a uma causa. Hoje, a forma como a empresa é percebida pelo seu público consumidor e a comunidade onde atua, é o seu maior patrimônio.

Imprensa - O consumidor está mais consciente?
MS - Sem dúvida, mas ainda não é o bastante. Há uma tendência irreversível neste sentido. O consumidor, ao fazer sua escolha, é que vai determinar a qualidade da empresa e não o produto.

Imprensa - Em que a ONG é melhor que os institutos de empresas?
MS - A ONG surge geralmente de forma espontânea, de um compromisso com a mudança a transformação social, não em função de uma estratégia empresarial.

Imprensa - O que está mais desenvolvido no Brasil: a empresa socialmente responsável ou a ONG?
MS - Não vejo como dois campos apartados, mas complementares. Contudo, não deve ser visto como um modismo. A equidade social é um amadurecimento do mundo empresarial, é a convicção de que não é possível mais conviver com alguns estados de exclusão.

Imprensa - Hoje, as empresas passam a ser também geradoras de bem-estar social?
MS - É um novo papel. A missão da empresa não se reduz mais ao produto que ela fabrica. Na realidade sua função é melhorar a qualidade de vida das pessoas.

Imprensa - Como deve ser a relação entre a empresa que quer comunicar sua ação social e o jornalista?
MS - Os princípios são os mesmos. Se uma empresa diz que beneficia as crianças, tem que ouvir a comunidade, verificar resultados. A comunicação empresaria sempre foi espécie de bico de jornalista. Eram aqueles que trabalhavam uma parte do dia em redação e a outra em uma empresa. Isso mudou. Hoje, 70% dos jornalistas trabalham no jornalismo empresarial e dignificam a profissão. Eles sabem que sua missão é ajudar a o pública a compreender esta nova situação.

Imprensa - Como você avalia a qualidade da cobertura de terceiro setor?
MS - Melhorou muito. Mas, se sairmos perguntando na rua, no Congresso Nacional, na Fiesp qual é a coisa mais importante para o país hoje, todos vão responder:
"Educação", E onde está a editoria de educação? Quantos comentaristas sociais nós temos na imprensa? Quem sabe fazer a interpretação do balanço de um orçamento público sobre a perspectiva social? Falta isso.

Algumas precauções

• Cuidado com as "aurisacra foundations", que se aproveitam de verbas dos cofres públicos, dinheiros internacionais a fundo perdido ou da benemerência do setor privado

• Tenha fontes nas ONGs e Institutos do terceiro setor. Alguns sites: www.ethos.org.br, www.gife.com.br, www.andi.org.br

• Verifique se o investimento financeiro de uma empresa tem sido socialmente lucrativo

• Verifique o balanço social da empresa

• Atenção para entidades de faxada

• Fuja de foto "empresário entrega cheques"

• Atente para Instituições que gastam muito com publicidade

• Pesquise se os diretores da entidade recebem ou não remuneração. Em caso positivo, verifique se está de acordo com o mercado

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