MARCIO SCHIAVO APRESENTA O CONCEITO DE EDUCAÇÃO SOCIAL CORPORATIVA

Ciclo Comunicar Educação
Portal Nós da Comunicação | 23/03/2009

Por Christina Lima

Marcio Schiavo é diretor da Comunicarte, agência que presta serviços para empresas interessadas em criar projetos de responsabilidade social. Ele está à frente da organização da I Conferência Internacional de Educação Social Corporativa, evento que espera reunir no Rio de Janeiro, em setembro, cerca de 300 representantes de 30 países para discutir o papel das organizações empresariais do século XXI na educação de funcionários, consumidores ou mesmo da sociedade em geral. Nessa entrevista, que abre o Ciclo Comunicar Educação, Schiavo esclarece a pergunta que faz ao empresariado brasileiro: “qual a educação do seu negócio?”.

Nós da Comunicação – As empresas brasileiras têm consciência de seu poder educativo?
Marcio Schiavo – Sim, se considerarmos empresas brasileiras inseridas em um contexto global, como Vale, Petrobras, Globo e Unibanco. Elas não são maioria, mas essa consciência existe nas corporações mais conectadas e envolvidas com responsabilidade social.
Com o conceito de educação social corporativa, estamos propondo um corte: superar aquela postura de a empresa apoiar uma escola e passar a incluir o apoio à educação dentro do próprio negócio. Se considerarmos nosso sistema de educação, o indivíduo entra em uma escola aos seis anos, sai depois da faculdade e passa, então, mais 50 anos sem contato formal com a educação. Precisamos utilizar outros canais. Um MBA oferece 360 horas de aula. Uma brasileira típica assiste em vida 12 mil horas de novela. Se esse meio puder contribuir com a disseminação de informação, muito melhor.
Atuamos na liderança de cada segmento, pois as iniciativas das empresas líderes influenciam toda a cadeia produtiva. Mais ou menos como uma pequena confecção se inspira em um desfile de moda. Porém, a economia brasileira está muito apoiada nas micro e pequenas empresas, e um movimento de varejo responsável é muito importante. Quando uma criança vai à padaria comprar cigarro para o pai, o atendente na caixa, além de se recusar a vender, pode entregar um folheto explicativo sobre a lei que proíbe a venda para menores. Um vendedor de loja de material de construção pode também informar seus clientes sobre o retorno de lâmpadas queimadas. Uma vendedora de cosméticos de porta em porta, além de oferecer as novidades do catálogo, pode muito bem aproveitar a ocasião para perguntar: ‘Você tem feito o autoexame de mama? Vou te mostrar como é’.
Quando um empresário se aproxima da educação e faz dela um negócio, o resultado é uma educação de baixa qualidade. Quando a educação se aproxima dos negócios, as empresas se transformam em verdadeiros agentes educativos.

Nós da Comunicação – Quais setores são mais carentes de educação social corporativa? E por quê?
M. S. – Os setores mais problemáticos são os das empresas de telefonia, campeãs de processos legais abertos pelos clientes; empresas de cartões de crédito; bancos, apesar de iniciativas positivas sobre uso consciente do crédito; e serviços públicos, um problema ainda mais grave porque é um direito nosso e uma obrigação deles.
Outro segmento é o da indústria automotiva, que, em suas propagandas, passa uma ideia bastante equivocada quando mostra um carro em alta velocidade, fora dos limites da lei, e todos sabemos que a imprudência no trânsito é causadora de tantos acidentes fatais. Essa indústria poderia muito bem botar a inteligência a serviço da educação. Outra forma de educar é por meio da tecnologia. A rede hoteleira pagava altas contas de energia. Quando passaram a investir em um dispositivo que apagava as luzes, o consumo diminuiu e, ao mesmo tempo, demonstrou ser possível conscientizar os hóspedes. 

Nós da Comunicação – Todas as empresas, independentemente do segmento de atuação, são capazes de responder à pergunta: qual a educação de meu negócio?
M. S. – Sim. Todas são capazes de se repensar e adotar essa postura, seja de que setor for. Os melhores resultados são observados quando elas descobrem que, dessa forma, conquistam a fidelização dos mercados. Isso aconteceu desde cedo com a Natura. Aquelas empresas que dizem não ter tempo para isso e que a realidade do mercado é outra, só se convencem realmente quando a mudança atinge o bolso. Há grande motivação econômica. Cada vez mais, o consumidor toma consciência de seu poder. Todos praticam? Não. Mas se pensarmos em termos de tendência, os consumidores estão preparados. 

Nós da Comunicação – Do que trata a I Conferência Internacional de Educação Social Corporativa, evento que será realizado no Rio em setembro?
M. S. – O evento tenta introduzir esse novo conceito exemplificando cases com base em experiências bem-sucedidas. Queremos, assim, criar uma contaminação positiva. Como produto desse encontro, pretendemos redigir um documento que batizamos de ‘Carta do Rio’. Nele, os empresários se comprometem a gerir seus negócios com maior responsabilidade educativa. Queremos que eles assumam um compromisso. Não basta destinar uma doação à escola da vizinhança, isso também é desejável, claro, mas o ideal é que o comprometimento seja inerente ao negócio. A conscientização para uso do filtro solar, por exemplo, veio a partir do Ministério da Saúde? Não, veio dos fabricantes.

Nós da Comunicação – Qual o papel da comunicação no processo de educação social nas empresas?
M. S. – O mundo avança quando a comunicação avança. Ao longo da história, quando o homem dominou a comunicação, a linguagem e o mundo aceleraram. É nesse processo de transmissão de informação que ocorre a evolução. Dentro das organizações, podemos aumentar o nível de consciência dos comunicadores. Dizemos a nossos clientes que se a comunicação está longe do poder de decisão, a ação planejada não vai dar certo.

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